A mudança da cidade para o campo pode ser uma verdadeira aventura. É para muitos a busca de um sonho, algo muito desejado, mas muitas vezes envolvido em receios também, principalmente quando se parte para algo totalmente desconhecido.
Quando aos 23 anos de idade, eu e o meu companheiro abandonámos o meio urbano, para abraçar uma vida rural, ele estava de facto a abandonar tudo aquilo que conhecera até então, toda a família, amigos, a terra onde nascera e onde sempre tinha vivido. Eu não.
A minha família fez a mudança quando eu tinha apenas 6 anos e é nessa fase que situo a sensação de mudança para o desconhecido, a partida para a aventura, e viver essa sensação na infância não me trouxe qualquer tipo de receio, muito pelo contrário. A nossa mudança foi extrema. Da cidade para a serra, para o local mais remoto, natural e inabitado que poderia haver no Portugal dos anos 80/90. Ambos muito jovens, com 4 filhos, os meus pais decidiram comprar e recuperar uma casa de xisto, numa aldeia que era na altura deserta, completamente abandonada na Serra da Lousã (quando ainda não havia turismo,- a muitos quilómetros da vila, sem carro (o meu pai tinha apenas uma motorizada e as idas à vila faziam-se a descer – e subir de volta – a serra a pé). Mas esta história fica para uma outra altura! O que é certo é esta experiência deixou em mim memórias valiosas e é parte de quem eu sou, do meu ADN.
Mais tarde, por voltas do destino e outras razões, voltei a viver no Porto para estudar numa escola de artes. Não que fosse imprescindível para mim na altura, mas porque a família acreditava que fosse a melhor escolha e embora um pouco contrariada, embarquei nessa nova mudança. O facto é que acabou por ser uma experiência boa, aproveitei a cidade, e tudo o que ela pode oferecer, na melhor altura: o final da adolescência e idade pré-adulta. Mas na verdade, sentia falta do campo e da natureza muitas vezes. Sentia falta da montanha e dos pássaros, da urze, das flores selvagens, dos cheiros, da liberdade. Por isso eu não tinha dúvidas de que tinha de voltar e que era aqui, no campo, que eu queria realmente viver.
Mudar para o campo tem os seus desafios. Muitos. Principalmente quando se muda numa fase em que ainda não se consolidou experiência profissional.
O que move alguém a procurar uma vida no campo e que desafios encontra?
Por causa de um outro projeto em que trabalhei durante um tempo, fiz uma pequena recolha de testemunhos na internet, em alguns grupos do facebook onde participo.
A maioria das pessoas que deu o seu testemunho, especialmente as pessoas que se mudaram para Portugal vindos de outros países da Europa, disse ter feito a mudança da cidade para o campo, já depois dos 40 / 50 anos, ou já na idade da reforma. Quanto a portugueses, a maioria das pessoas que participou fez mudança ainda jovem entre os 20 e os 40 anos.
Independentemente da idade, os motivos que as levaram a fazer essa mudança são muito similares:
O cansaço de uma vida agitada;
A procura de uma vida mais calma e relaxada;
Mais qualidade de vida.
Poder cultivar a própria comida,
Viver perto da natureza;
Poder criar os filhos de uma forma mais saudável e feliz;
Viver uma vida mais sustentável e menos dispendiosa;
Sendo Portugal tão pequenino, e servido de tantas auto-estradas, é fácil e rápido hoje em dia chegar a qualquer lado.
Quanto aos desafios e dificuldades encontradas:
Isolamento: Menos “vida social”
Afastamento de amigos, familiares .
Falta de uma boa rede de transportes – a necessidade de se conduzir e de ter carro no meio rural é uma realidade. Apesar de haver transportes públicos, estes não vão a todo o lado e são muito limitados.
A falta de trabalho / emprego. Muitas das pessoas que se mudam da cidade para o campo ainda em idade ativa sentem esta dificuldade. Muitas vezes a solução passa pela criação do próprio emprego, ou uma pequena empresa (quando é possível o investimento) e aqui as possibilidades são muitas: Turismo, agricultura, serviços… para além de que é sempre uma mais-valia para a região, e definitivamente, o trabalho remoto.
A vida no campo não é para todos… tal como a vida na cidade não é para todos. Nascer no campo e desejar viver na cidade ou nascer na cidade e desejar uma vida de campo… são sentimentos comuns.
Uma coisa é certa, se o desejo é forte, seja ele qual for, devemos trilhar o nosso caminho rumo ao tipo de vida que desejamos para nós e para a nossa família, mesmo que isso signifique arriscar ou perder certas coisas que damos como seguras… Dificuldades vão surgir, em qualquer mudança, em qualquer caminho, mas ainda assim, a vantagem de viver uma vida mais plena, saudável e feliz é o prato que mais pesa na balança… E ainda bem!
Então… se o que desejas é viver no campo, apesar dos receios, força, arrisca! O que esperas?